23 outubro 2007

A oficina com Berardi no FIQ

O FIQ acabou. Segundo os organizadores o evento teve mais de 35 mil visitantes em 7 dias, número recorde pro festival que completa 10 anos de existência em BH.

Um ponto alto do evento foi a oficina com Giancarlo Berardi, roterista de Ken Parker, Julia, Giuli Bai & Co. e Tom's bar. O autor contou que a partir de 1974 renovou a maneira de contar quadrinhos abolindo as legendas e propondo una narrativa mais cinematográfica, junto a autores como Hugo Pratt, cujo personagem Corto Maltese foi criado justamente em Genova, cidade natal de Berardi. Durante cerca de dez anos Berardi renunciou às cervejas com os amigos e às saídas com a namorada para se dedicar à leitura, tendo lido um livro a cada noite. Graças a esta opção hoje o autor consegue produzir até 12 histórias simultaneamente.

Ken Parker começou como um episódio único (Lungo Fucile), pedido pelo Bonelli. Deu certo e a série continuou, mas os autores tiveram que tirar a barba do protagonista para rejuvenecer o personagem. Sobre a relação com o editor contou um caso: Bonelli pedia sempre um esboço do roteiro antes de liberar a produção. Berardi porém não utiliza este processo: inventa um pedaço da história a cada dia, ficando livre para aumentar ou diminuir o papel dos personagens e mantendo vivo seu interesse pela história (e consequentemente o do leitor). Assim as histórias prontas eram sempre diferentes do script e após uns quatro número Bonelli teve que desistir de cobrar o enredo e deixou livre o roterista.

Á inevitável pergunta 'Ken Parker terá continuação' o autor disse que só no dia em que um editor colocará o braço sobre seus ombros e dirá 'quantos episódios faltam? Cinco? Dez? Pode mandar ver, independente se vender ou não'. A série Ken Parker já foi interrompida duas vezes, no número 59 da primeira edição da Bonelli, devido à incompatibilidade entre os ritmos de produção da editora e a qualidade exigida pelo autor, e após 36 números do Ken Parker Magazine, experiência editorial até certo momento encabeçada pelos próprios Berardi e Milazzo com outro sócio (em seguida continuou com o apoio da Bonelli). Berardi disse que tentou vender o projeto em diversos países da Europa sem sucesso, inclusive pela incompatibilidade do traço expressionista de Milazzo com a predileção generalizada no velho continente pela linha clara característica da França.

Hoje Berardi trabalha com dois assistentes num escritório em Genova. Entre seus desenhistas preferidos indicou Trevisan, a jovem Laura Zuccheri e - naturalmente - Milazzo. O autor disse querer ajudar os jovens a correr atrás dos próprios sonhos. 'Os jovens deveriam ter em si a cintila da revolta' e não satisfazer-se apenas com a tecnologia e o baixo nível da mídia. Citando John Ford disse que 'entre a lenda e a realidade prefere contar a lenda'. A realidade do velho oeste não tinha graça: os pistoleiros fediam, atiravam pelas costas a um metro de distância e carregavam o revolver na cueca, o que acabava por gerar uma série de acidentes pouco ortodoxos... Durante o encontro Berardi foi disponível e consistente, brincou e promoveu reflexões, manifestando acreditar nos valores humanos pelos quais é bem conhecido entre os leitores.

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