22 fevereiro 2009

Figura

O Luciano Irrthum é um cara ímpar. Quem já sentou e tomou uma com ele sabe disso.

Mas a particularidade dele não é só pessoal. É fato que o sujeito é um artista único. A Graffiti sempre publicou, com orgulho, o trabalho do Luciano. Desde o primeiríssimo número zero, em 1995, acompanhamos o trabalho dele e quase nunca conseguimos recusar as propostas porque, apesar de estapafúrdias, as obras sempre eram geniais e, obviamente, a cara da Graffiti.
Sequências de 'A comadre do Zé' (2009).

Um álbum desse cara é uma consequência muito natural nos 13 anos da trajetória da revista. Ou seja, tem a linguagem autoral que sempre perseguimos e uma expressividade própria. Ele desenvolveu uma linguagem especifica, sua, do tipo que você bate o olho e fala: ‘É do Irrthum!’
Isso, por si só, o faz um artista de grande mérito. Não é qualquer cópia ou linguagem chupada. É dele e só dele. Dá pra ver. Mas a linguagem do Irrthum, no caso, sempre nos comoveu porque, além de evidenciar singularidade autoral, é, para quem o conhece, a expressão mais pura do que esse sujeitinho quer falar. O traço dele é brasileiro, pega aqui e ali algumas referências, mas, sobretudo, é dele mesmo. Ele variou, fez hachuras no traço, mas nunca vacilou na potência de sua expressividade. O jeito, tosco, direto, por vezes escatológico e radical, é a maneira com a qual esse figura se expressa. Ele é o próprio quadrinho que faz. O desenho sai do âmago. Ele é cada balão que está ali, na nossa frente. Cada putaquepariu que está escrito. Não há evidência maior do que essa para se chamar alguém de Artista.

O Irrthum é o cara.

Pablo Pires
do posfácio ao álbum 'A comadre do Zé'


Sequências de 'Vaquinha de presépio' (Graffiti # 0 - 1995)

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